Lírio do meu jardim,
O meu coração ainda bate apressado
de cada vez que vossa imagem surge em meus pensamentos, assim, do
nada, inesperadamente, desejadamente.
São inúmeras as vezes que dou por
mim a voar por entre as memórias de vosso corpo, de vosso toque, de
vossa presença.
Ainda na noite passada, ao escutar
Rigoletto, algumas das árias me transportaram de imediato
para momentos em que palavras como aquelas que Gilda canta ao Duque
de Mântua me foram ditas ao ouvido, acompanhadas de profundos
abraços, daqueles mais fortes do que o fim do mundo. Mas tão
efémeros quanto tudo aquilo que existe...
Também vos costumo encontrar em
livros que leio, talvez por vos procurar lá, ainda que
inconscientemente. Mas é um conforto difícil de explicar. Ter-vos
em alguma página, em algum parágrafo e, enquanto vos leio,
saber-vos ainda presente, ao meu redor. Doce ilusão da qual insisto
em não abdicar. A história da personagem Constança, de Maria
Teresa Horta, é disso exemplo vero: Quando o viu nu, pareceu-lhe
um arcanjo negro, no seu mutismo, na sua beleza morena e triste, na
sua voracidade, reforçando em
seguida, Recordava-se do medo de o perder, do medo de ser
abandonada por ele, do medo de ter de se habituar a ficar a viver sem
ele.
Meu arcanjo negro, quanta saudade.
Barão K.