segunda-feira, 24 de abril de 2017




      Podeis considerar-me um tanto desenquadrado do tempo em que estamos, desta época onde tudo é rápido e acessível e imediato e efémero. Sim, podeis. E tendes toda a razão. Conheço-me e não me integro nesta desvirtuosa realidade. Mas também não pretendo esgotar-me, remando contra a maré. Pelo contrário, retiro-me desse mar... Opto pela aridez da terra seca e quente, pelo caminho das pedras. E faço, assim, o meu caminho. Aconteço pelo caminho. Faço-me caminho e a caminho. E, não querendo entrar neste jogo previsível de musical repetição, atrevo-me nas palavras do poeta:

Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,...
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.


     Saudade... Essa palavra que me desarma e me leva a escrever todas estas cartas (ridículas cartas de amor). Todo este latim é por vós e para vós. Vós, minha predilecta ária de Puccini, que, certamente, jamais, em tempo algum, ireis ter conhecimento destas solitárias redacções.
     Ainda que a resposta seja “destinatário em parte incerta”, cada uma destas palavras é remetida através do vento, endereçada a vós.


     Sempre vosso,
     Barão K.



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