sábado, 29 de abril de 2017




     Lírio do meu jardim,

     O meu coração ainda bate apressado de cada vez que vossa imagem surge em meus pensamentos, assim, do nada, inesperadamente, desejadamente.
     São inúmeras as vezes que dou por mim a voar por entre as memórias de vosso corpo, de vosso toque, de vossa presença.
     Ainda na noite passada, ao escutar Rigoletto, algumas das árias me transportaram de imediato para momentos em que palavras como aquelas que Gilda canta ao Duque de Mântua me foram ditas ao ouvido, acompanhadas de profundos abraços, daqueles mais fortes do que o fim do mundo. Mas tão efémeros quanto tudo aquilo que existe...
     Também vos costumo encontrar em livros que leio, talvez por vos procurar lá, ainda que inconscientemente. Mas é um conforto difícil de explicar. Ter-vos em alguma página, em algum parágrafo e, enquanto vos leio, saber-vos ainda presente, ao meu redor. Doce ilusão da qual insisto em não abdicar. A história da personagem Constança, de Maria Teresa Horta, é disso exemplo vero: Quando o viu nu, pareceu-lhe um arcanjo negro, no seu mutismo, na sua beleza morena e triste, na sua voracidade, reforçando em seguida, Recordava-se do medo de o perder, do medo de ser abandonada por ele, do medo de ter de se habituar a ficar a viver sem ele.


     Meu arcanjo negro, quanta saudade.
     Barão K.

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