Meu canto de rouxinol em
noite de luar,
Como tereis passado este
dia? E com quem? Talvez não o queira realmente saber...
Quereria, isso sim,
contar-vos que faz hoje quatro anos que assisti ao concerto da Marisa
Monte no Coliseu de Lisboa. Uma noite belíssima em que todas as
canções foram versos soltos de uma única e forte oração: o amor
à música. Lembro-me de um momento muito particular: aquando da
canção Gentileza, a sala inteira foi bombardeada com luzes e
projecções de cores e formas variadas tornando o momento numa
verdadeira celebração. Não posso esquecer.
Nesse tempo ainda não
vos conhecia, mas, de certa forma, já vos esperava... Já me
preparava para a vossa chegada, para o vendaval que se abateu na
minha vida que fostes vós.
Tenho andado nestes
últimos dias a passear os meus olhos sobre algumas imagens de
quadros de Balthus, alguns detalhes. De há um tempo para cá o
trabalho deste artista tem vindo a despertar o meu interesse e ainda
não cheguei a uma conclusão sobre o assunto. Mas o traço dos seus
desenhos atrai-me, as suas personagens por vezes transportam-me para
um universo similar ao de Paula Rêgo. E em tudo isso encontro rasgos
de encanto e bestialidade.
Hoje dediquei algum
tempo a La Montagne. É fabulosa a postura quase violenta das
personagens intervenientes, os possíveis diálogos que se podem
imaginar, os silêncios e o abandono. E a paisagem, aquelas montanhas
que se estendem para lá do horizonte. Ocorrem-me as palavras que
Sérgio Sant'Anna escreveu sobre esse quadro: Assim é Balthus,
anjo cerimonioso que oferece por nós o sacrifício e, uma vez
tendo-o consumado, abandona a cena, como em La Montagne, onde o
pintor é visto como um ponto longínquo, de costas, imerso em sua
solidão, deixando moças e rapazes entregues a seus ritos para ir
fertilizar alguma outra cena, em algum outro lugar.
Sinto-me esse pintor
quando penso no que vivemos e como me retirei dos vossos dias. Era
necessário... Talvez hoje possais compreender isso. Talvez já nem
pensais no assunto. Página virada!, direis vós num suspiro,
quiçá.
La Montagne, Balthus |
Ainda vosso,
Barão K.
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