quinta-feira, 27 de abril de 2017




      Meu canto de rouxinol em noite de luar,

     Como tereis passado este dia? E com quem? Talvez não o queira realmente saber...
    Quereria, isso sim, contar-vos que faz hoje quatro anos que assisti ao concerto da Marisa Monte no Coliseu de Lisboa. Uma noite belíssima em que todas as canções foram versos soltos de uma única e forte oração: o amor à música. Lembro-me de um momento muito particular: aquando da canção Gentileza, a sala inteira foi bombardeada com luzes e projecções de cores e formas variadas tornando o momento numa verdadeira celebração. Não posso esquecer.
     Nesse tempo ainda não vos conhecia, mas, de certa forma, já vos esperava... Já me preparava para a vossa chegada, para o vendaval que se abateu na minha vida que fostes vós.

     Tenho andado nestes últimos dias a passear os meus olhos sobre algumas imagens de quadros de Balthus, alguns detalhes. De há um tempo para cá o trabalho deste artista tem vindo a despertar o meu interesse e ainda não cheguei a uma conclusão sobre o assunto. Mas o traço dos seus desenhos atrai-me, as suas personagens por vezes transportam-me para um universo similar ao de Paula Rêgo. E em tudo isso encontro rasgos de encanto e bestialidade.
     Hoje dediquei algum tempo a La Montagne. É fabulosa a postura quase violenta das personagens intervenientes, os possíveis diálogos que se podem imaginar, os silêncios e o abandono. E a paisagem, aquelas montanhas que se estendem para lá do horizonte. Ocorrem-me as palavras que Sérgio Sant'Anna escreveu sobre esse quadro: Assim é Balthus, anjo cerimonioso que oferece por nós o sacrifício e, uma vez tendo-o consumado, abandona a cena, como em La Montagne, onde o pintor é visto como um ponto longínquo, de costas, imerso em sua solidão, deixando moças e rapazes entregues a seus ritos para ir fertilizar alguma outra cena, em algum outro lugar.
   Sinto-me esse pintor quando penso no que vivemos e como me retirei dos vossos dias. Era necessário... Talvez hoje possais compreender isso. Talvez já nem pensais no assunto. Página virada!, direis vós num suspiro, quiçá.

La Montagne, Balthus



    Ainda vosso,
    Barão K.

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